Uma viagem de comboio

Uma Viagem de Comboio

 à um tempo atrás, fiz uma viagem de comboio.

A determinada altura numa estação, alguém entrou, sentou-se ao meu lado.

A viagem era longa, enorme, sinuosa, por isso tivemos tempo para falar do tempo, da vida, da felicidade, do sofrimento, do amor… À medida que os quilómetros iam passando sentimo-nos cada vez mais perto. Revelou-se uma conexão quase inexplicável pois parecia que já nos conhecíamos e que estávamos apenas a reviver o passado.

Eu estava no lado da janela e de vez em quando olhava por ela, fixava-me vendo as árvores passar envoltas nos meus pensamentos e sensações. De repente quando olhei para o lado aquela pessoa já não estava. Distraída, só já na estação, reparou que era o seu ponto de saída. Saiu a correr e provavelmente até se despediu de mim, mas eu não ouvi. Olhei pela janela e lá estava ela, veio junto da janela dizer-me adeus, o comboio partiu e continuei a observa-la na estação cada vez mais longe à medida que o comboio se afastava.

Continuei envolto nas árvores e na paisagem como se fosse um pano de fundo dos meus pensamentos.

Fiquei notálgico, quiçá com saudades. Saudades de dela, saudades de mim, saudades de um passado, certamente inconscientes onde provavelmente nos cruzamos. Foi uma sensação estranha e incontrolável. Algo que vinha do amago daminha existência.

São as pessoas e mundo que espelham a nossa existência. A sua presença, permanência ou impermanência revelam quem na verdade somos, de onde vimos e para onde vamos, assim o estado da nossa consciência o permita.

Saímos e entramos na estação que escolhemos, mas o comboio continua, depois de um virá outro e outro, num ciclo sem fim, até ao dia que deixamos que o comboio siga sem nós.

3-4-2008
João Dionísio

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