O que na verdade somos está muito para lá das nossas crenças do ego. A personalidade de cada um nada é mais do que uma amálgama de crenças que se sobrepõem umas nas outras e que resultam num a preceção ilusória daquilo que somos. As crenças são, de acordo com a sua qualidade, o que nos afasta ou aproxima da nossa essência, elas definem rigorosamente tudo o que nos condiciona ou impele a agir.
À nascença somos como um pedaço de barro capaz de se transformar em qualquer coisa que o oleiro quiser, de acordo com as suas crenças, esse barro transformado vai ser o resultado da sua experiência, da sua vivência até esse momento e que lhe permite construir uma realidade. Cada pessoa traz consigo uma qualidade de barro muito própria e o “oleiro” será tudo e todos os que nos esperam e nos acompanham numa primeira fase de vida.
Somos por isso “peças” moldáveis desde o dia em que nascemos e são os fatores que nos moldam que vão fazer surgir em nós as crenças que levamos para a vida. Os fatores são tudo o que vimos encontrar desde o dia em que inspiramos pela primeira vez. Nenhum de nós se lembra certamente mas não foi fácil para ninguém enfrentar um meio tão diferente e hostil comparativamente ao que estávamos habituados, começa aí um longo período de adaptação.
De acordo com tudo o que nos vai chegando diariamente, vamos construindo a nossa realidade acreditando e rejeitando, na verdade tudo se resume a estes dois fatores. Podemos acreditar durante algum tempo numa ideia, num projeto, numa filosofia, numa amizade, numa religião etc, e pela experiencia chegar à conclusão que deixamos de acreditar, aí rejeitamos e começamos logo a acreditar noutra coisa, ao rejeitar estamos a fazer surgir outra crença porque isso é uma necessidade intrínseca ao ser humano, tem sempre de acreditar ou para agir ou para ficar inerte. Quem não acredita que um dia terá o emprego ideal acredita que não vale a pena fazer nada para que isso aconteça. Há sempre uma crença que define onde estamos em todos os aspetos da vida.
Ao nível das relações tudo isto é por demais evidente. O ser humano só evolui pela forma como se relaciona e consegue observar nos outros a si próprio. Qualquer dificuldade de relacionamento que possamos ter implica sempre a existência em nós de crenças que nos levam atrair mais do mesmo.
Pelo exposto não será difícil concluir a importância que as crenças têm no nosso ciclo de vida. Se adquirirmos a consciência e a capacidade de as identificar e transmutar adquirimos uma poderosíssima ferramenta que nos permite encontrar as soluções para tudo na vida. Dizer isto parece quase a revelação da chave da felicidade, da fórmula que todos procuram. Na verdade é tudo muito simples o que não quer dizer que seja fácil. Mudar uma crença pode ser algo tão visceral, algo que está de tal maneira entranhado em nós que quando tentamos mudar temos a sensação que perdemos um bocado de nós, da nossa estrutura de valores, isto porque nos identificamos com ela. Soltar uma crença desta natureza implica quase sempre lidar com algo que temos de abdicar para que algo de novo surja. Essa dificuldade tem mais a ver com a capacidade de aceitar a perda do que aceitar o novo, ou seja queremos que tudo mude sem perder nada do que aparentemente conquistamos.
Ninguém deixa de acreditar porque sim, ou se o fizer é porque não acreditava de verdade. Este processo de reciclagem das crenças não acontece ao nível da mente mas sim pela emersão dos valores da Alma. O processo é profundo, passar de crenças do ego para crenças da Alma é algo que nos leva à verdade, ao nosso designo, à felicidade, não a felicidade que é fundamentada em valores materiais, mas sim a que nos eleva e nos pacífica perante o mundo.
Adquirir consciência sobre uma determinada crença que nos limita de alguma forma é o passo mais importante mas também o mais difícil de dar. A partir daí tudo se torna mais fácil, basta fazer um trabalho de observação interno e de consciência plena perante a vida.
Há ainda que distinguir dois tipos de crença, aquelas a que temos acesso pelo nosso lado consciente e as aquelas que estão gravadas no nosso inconsciente. Em termos astrológicos podemos falar em crenças do nosso Sol (consciente) e da Lua (inconsciente).
O processo terapêutico é fundamental para que a pessoa aprenda a identificar para onde as suas crenças o estão a levar. Normalmente o sofrimento é o fator de alerta que vai despoletar a necessidade de mudança, ele funciona como um sinal de abrandamento por proximidade de Stop e cruzamento J .
Se tiver algum tipo de desconforto em alguma área da sua vida, observe aquilo em que acredita, contraponha outras opções, tente projetar onde essas opções o levam, veja o que tem de abdicar e o que tem a ganhar, tome consciências e responsabilize-se pelas decisões que tomar. Tente não ouvir a sua mente racional, escolha sempre a sua intuição ela é a voz da sua Alma a querer emergir do seu coração.
João Dionísio