Porquê ajudar o outro?
Porque faz de nós pessoas de bem? Bondosas?
Porque nos preocupamos com os outros?
Porque evitamos algum tipo de julgamento?
Porque não lidamos bem com o sofrimento? nosso e dos outros?
Porque queremos ser bons amigos, colaboradores?
Ou não será sempre assim?
Será que muitas vezes ajudamos para nutrir carências que existem em nós?
Será que ao ajudarmos não estamos a contribuir para que essa pessoa continue a precisar de ajuda?
Continue querendo mais e mais ajuda?
Não será o ato de ajudar muitas vezes algo irresponsável e egoista?
Ajudamos, limpamos a nossa consciência e viramos costas felizes porque fizemos o possivel e depois ficamos ali espectantes pelos resultados?
Excluo todas as ajudas que visam tirar pessoas de situações limite, de risco e condições de vida etc. não é esse tipo de ajuda que agora quero tratar mas sim todas as outras que poem em causa a nossa evolução como seres livres e responsáveis.
Dar uma moeda a um mendigo, pode realmente ajudar na refeição daquele dia mas será que não estamos a camuflar a possbilidade daquela pessoa procurar outras vias, encontrar o seu rumo na vida? Vamos dar-lhe o peixe ou a cana? Enquanto lhe der-mos o peixe ele jamais vai perceber sequer que a cana existe.
Há um aspecto que a vida acaba sempre por nos pedir, mais cedo ou mais tarde, Responsabilidade. Responsabilidade pelo que somos, pelo que fazemos, pelas nossas relações, pelo que temos, pelo que dizemos, pelo que sentimos e até pelo que pensamos.
Normalmente o “sítio” onde estamos é o resultado de decisões que tomamos num passado mais ou menos recente. Se não estamos bem ou sentimos alguma especie de desconforto, é porque essas decisões não foram as mais acertadas. Nesse balanço consciente a vida pede responsabilidade pelo que foi feito e redirecionamento no presente para que não se repita.
Quando saimos da nossa zona de conforto é a vida a pedir responsabilidade, e isso custa, dá chatices, trás desafios, trás desconforto mas normalmente é aí que se evolui, é aí qua a vida nos trás mais e mais.
Quando a vida pede responsabilidade e pede descernimento individual, o ato de pedir ajuda, lamentar-se, culpar os outros, é a fuga à dor da evolução, fuga à oportunidade que a vida dá de resolver e de ir mais além. Percebe-se isso quando as pessoas só querem falar, mais comumente, desabafar e depois não as vemos a fazer nada, ficam ali simplesmente agarradas às palavras e as próprias lamentações, não querem ajuda, querem apenas nutrir as suas carências. Aí a melhor atitude é dar espaço e não deixar que essas conversas cortem o fluxo do nosso dia a dia, soltem, deixeim-nos viver.
O processo é individual, por isso ajudar pode ser a pior coisa que fazemos a alguém.
Devemos simplemente ouvir e ficar, sem conselhos nem mais demandas, indicar todos os caminhos que levem a pessoa a encontrar dentro de si a força e a consciencia para resolver, dar-lhe todas as “canas” possiveis mas que seja ela, com o nosso necessário distanciamento e encontrar o trilho da sua verdade, leve o tempo que levar, pois ninguém evolui quando quer mas sim quando pode. Se ficarmos sempre ali, ele não vai, não percebe que tem de ser criativo na sua vida, o ato de criar é um ato solitário, ele tem de perceber que a grande obra da sua vida é a sua própria vida e que já mais alguém poderá vive-la por si.
Vamos por isso ser conscientes no ato de ajudar, vamos estar atentos e ver se não é mais um rasteira do nosso Ego a dizer-nos as coisas que só ele sabe. Basta estar alerta, depois de deixarem uma pessoa que vos pede ajuda vejam como se sentem, vejam o que vossa intuição vos diz, sintam, aí estará a resposta.
Já agora, pensem um pouco antes de pedir ajuda. 😉
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