O Amor talvez seja um dos sentimento menos entendido pela humanidade porque ele pode ser o Tudo e o Nada, o Bem e o Mal, o Certo e o Errado, o Justo e o Injusto, o Forte e o Fraco. Tudo pode ser feito em nome do amor. Para os humanos, o amor pode ser a causa, a razão para tudo e para o seu oposto.
O Amor só é, quando existe a ausência do medo, mesmo o amor de mãe, na presença do medo, torna-se numa amálgama de outros sentimentos que não são apenas amor.
O Amor incondicional não é o amor romântico, não é o amor de mãe ou pai, não é o amor ao próximo, não é o amor à natureza ou aos animais, porque ele não é fracionável nem qualificável, nem se sente da forma como sabemos sentir. O Amor incondicional é a totalidade, é a fusão perfeita com o Todo. Não se sente, porque para integrar esse estado, tem de se ser o próprio estado. Não se sente o Amor incondicional, é-se o amor incondicional.
Tem de se ser esse estado, não há divisão possível, não há dualidade, não há forma de separar o Ser dessa forma grandiosa de Amor.
Sendo Amor incondicional, nada existe separado desse estado. Ama-se tanto a flor como a terra; tanto o sol como a luz; tanto a água como o ar; tanto o amigo como o inimigo; tanto a dor como o sofrimento; tanto a alegria como a tristeza; tanto o grande como o pequeno. É um estado de integração total, de entrega, de diluição na subtileza da matéria.
Tudo tem um propósito. A elevação da consciência, leva à natural integração da morte na própria vida, num ciclo eterno de renascimento e superação infinita. Tudo é vida, na verdade a morte não existe, aquilo que para a maioria dos humanos é um fim, não deixa de ser apenas o encerrar de um ciclo para dar continuidade à vida.
A humanidade ainda não vive num estado de integração suficiente, para entender esta forma de Ser em comunhão com o Universo. Ela julga-se separada desse todo, mesmo não estando, vive como se assim fosse, perde assim anos-luz de evolução, mas está tudo certo, as leis do Universo respeitam o livre arbítrio inerente à sua evolução.
Como a humanidade ainda não está preparada para a incondicionalidade do Amor, vai vivendo outras formas de amor que são a melhor forma para lá chegar, vivendo também o medo que é o caminho oposto. A principal tarefa não será ter foco na busca do amor , mas sim identificar e transmutar as barreiras que construímos e que nos impedem de ir até ele.
A paixão e mais tarde o amor romântico, começa por ser apego ao outro, há uma necessidade do outro. Neste campo a humanidade sempre foi muito criativa, e perde-se de amores, desilude-se e dilui-se nesse sentimento que quase sempre tem a ver com as próprias carências afetivas e emocionais. Junta-se o útil ao agradável, há como que uma comunhão temporária que satisfaz ambas as partes, que satisfaz os objetos desse amor. Isto é um amor condicional; há condições; há obrigações. Tende para um fim sempre que essas condições não se cumprem. A própria evolução pessoal de cada uma das partes, tende a divergir naturalmente desse sentimento outrora tão intenso e encantador.
O inquestionável amor de mãe e pai, se for um amor que não solta, que controla, que teme, que protege, que exagera, que se sacrifica, será incondicional? É enorme, é visceral, mas não é incondicional porque arrasta consigo, no mínimo, o medo da perda do objeto desse amor.
O amor ao próximo, o amor aos animais, à natureza, pode ser imenso, pode ser objeto de uma vida, mas não é incondicional.
Amor sem condições quer dizer, isso mesmo, sem condições, sem restrições, sem “ses” nem “mas”.
Na abrangência do todo, tudo cabe, tudo o que na nossa condição identificamos como sendo certo, errado, bom ou mau, cabe na incondicionalidade deste amor. Porque tudo tem um propósito maior, uma razão mais alta que se vislumbra à medida que o nível de consciência se eleva. Essa elevação traz consigo a libertação gradual das amarras emocionais, das crenças associadas, da ilusão dos sentimentos e o descarte do poder e do ego. Tudo isto que envolve a humanidade e dá de alguma forma, sentido à vida na dualidade, cabe na incondicionalidade deste amor, porque faz parte do processo para ele próprio ser alcançado.
Quando se abraça em consciência o processo evolutivo, rumo à iluminação, toda a realidade densa e material adquire um outro sentido, porque se sobem patamares energéticos e vibracionais. Numa primeira fase, por ser mais fácil, solta-se a densidade da posse material, depois o empenho deverá ser no trabalho interior, na sublimação do ser, soltando tudo que nos prende aqui em baixo. Tudo faz parte da mesma realidade, o plano material e o plano espiritual, a diferença está apenas na vibração, na frequência em que nos sintonizamos.
Uma boa imagem para definir como é integrar o todo, vibrando neste amor, é um jarro de água com o enorme cubo de gelo a boiar lá dentro. Ambos são feitos da mesma matéria, mas em estados diferentes, tal como nós e o universo somos feitos da mesma matéria em diferentes estados de densidade. Se a água for o universo e a pedra de gelo um ser, ou mesmo a própria humanidade, a densidade que é posta nessa pedra, a sua baixa temperatura, impede que ela se dilua no todo. Agora reparem como à medida que a temperatura (a vibração) sobe, por ação da água, (o universo), a pedra de gelo se dilui gradualmente, sendo impossível diferenciar o que é gelo, pois tudo passa a ser água líquida. É impossível encontrar aí qualquer partícula densa de gelo, sendo ao nível energético irreversível este processo. Aquele jarro de água já não é o mesmo porque foi acrescentado. Esta é a lei da evolução do universo. Por cada ser que escolhe vibrar mais alto, o universo expande e evolui, é assim em todos os pontos desta galáxia e de todo o universo.
Uma vez Água, já mais voltarás a ser Gelo!
A humanidade, por esta minha alegoria, ainda está na idade do gelo, está na densidade, vive no frio polar do medo, do poder, da ganância, da ansiedade, da inveja. Longe, ainda muito longe de entender para onde inevitavelmente caminha, pois como qualquer pedra de gelo, por mais que resista acabará por se diluir na água.
O amor incondicional acontece quando deixares de te identificar com o gelo e passares a integrar o oceano infinito do universo, não haverá pedras de gelo, só o todo.
Este estado de iluminação que se conquista ao longo de todo o processo reencarnatório e evolutivo, à medida que o estado de consciência se eleva, impulsiona a conexão com o Todo, e com ela emerge a capacidade de cocria a vida. A elevação da vibração acontece à medida que de vida para vida, se vai limpando o carma e se libertam as amarras inerentes a essa condição material e mental de ser. É a pedra de gelo que se vai derretendo. Até tem graça colocar aqui a expressão “partir pedra”, como simbolismo para tantos desafios, dor e sofrimento a que somos sujeitos neste longo caminho.
Podemos viver e praticar o amor incondicional nesta nossa condição? Sim podemos e devemos, esse é caminho. Ele acontece sempre que soltamos, sempre que desapegamos, sempre que conseguimos ver mais além do nosso ego, sempre que deixamos de esperar e exigir, acontece sempre que aceitamos as diferenças, sempre que nos doamos sem mas nem porquês, sempre que olhamos uma flor e a amamos como a nós mesmos. O amor incondicional acontece sempre, sempre, desde que estejas-mos abertos a ele. Este é o caminho que se faz paulatinamente, rumo à libertação da matéria, rumo à imensa luz.
Nesse estado integrado de comunhão, passarás a receber em abundância, proporcional à tua entrega, desapego e vibração. Passarás, não a receber tudo o que desejas com o ego, mas apenas o que for para ti, tudo o que te acrescenta e te pode ajudar mais nesse caminho de ascensão vibracional. Passas a entender por experiência própria, como o universo funciona, entendes que o universo és tu e tu és o universo, não há como diferenciar isso. Fluis e aprendes a escutar e a seguir a tua intuição, ela conduz-te nesse estado de entrega e fluidez constante, de dia e noite. Passas a vibrar no lado da luz, onde ela é infinitamente abundante e generosa, tal como a luz do sol; abundante; generosa e incondicional.
O Amor incondicional foi a mensagem trazida por Jesus à terra à dois mil anos atrás. “Amarás a teu próximo como a ti mesmo”. Ela traz implícita, o destino de todos os que passarem pela terra, demore, mil, quinhentos mil, um milhão de anos, pois a lei da evolução é pragmática.
Uma vez Água não voltaremos a ser Gelo!
Carlos Dionísio
05/05/2022
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