Enquanto ainda confundires o teu carro, a tua roupa, os teus objetos, o teu status com aquilo que realmente és, é porque ainda tens algum caminho a percorrer até chegares à tua essência. Ela não está nesses objetos, nessas crenças, nesses pensamentos, mas sim na liberdade e na distância que aprenderes a manter deles.

Essa ilusão que persiste por aí, é a responsável por todo o sofrimento humano. Já mais esse comportamento cumprirá as expectativas que ele próprio induz. Tudo é pura distração.

Tudo começa no emocional, há quem procure uma compensação ao rodear-se de objetos, de bens, outros na posição social, no poder, outros procuram a atenção e o nutrimento no seio da energia alheia, mas todos estão fadados ao fracasso, à desilusão, ao vazio, á constatação da falsa segurança por todos esses fatores induzida.

Quando te perguntam que és, primeiro dizes o teu nome e logo de seguida a profissão, aquilo que fazes, ou onde mais tempo te aplicas. É isso que o ego te induz a dizer, te induz a pensar que tu és isso. Tu és realmente isso? Um nome…uma profissão… Só isso? podes ainda acrescentar, ser pai, mãe, casado, solteiro, e por ai fora, mas mesmo assim – Apenas isso igual a tantos?

A verdade é que a maioria não conseguirá articular uma única palavra sobre quem realmente é, mas encontrará inúmeras palavras para descrever o que faz e gosta ou não gosta na vida.

Não satisfeitos em navegar no passado, ainda tendem a imiscuir-se nas questões do inacessível e a querer coisas no futuro comprometendo o presente, comprometendo uma infinidade de momentos presentes, aqueles que realmente existem.

A simplicidade do Ser é algo tão singelo e subtil que se torna impercetível devido à quantidade de densas camadas de ego e de personalidade, como se de multicamadas de uma cebola se tratasse. O profundo trabalho espiritual não começa por querer atingir instantaneamente esse estado de simplicidade infinita, mas sim por descascar, por desbravar gradualmente esse revestimento energético, induzido por crenças e convicções. À medida que se tira essa densidade ilusória, à medida que as camadas se vão dissipando, a simplicidade toma o seu lugar. A leveza de viver invade gradualmente toda a complexidade que existia. Elas coabitam durante um tempo, tal como a água que vê as suas gotículas transformarem-se em vapor criando a levez e a simplicidade que se eleva no ar.

Quando se fala em fluir com a vida, essa palavra confunde a maioria das pessoas porque fluir traz implícito outras palavras como, entrega, desapego, fé, gratidão, humildade, amor e coragem. E como isso é difícil, fluir na vida sem controle algum. Convencem-se que o percurso tem de ser como planeado, seguem o plano mais ou menos rigoroso ou sem rigor algum e deixam de ouvir, de sentir o que a vida lhes traz e diz a cada momento.

Querem condicionar o próprio rio, forçar as margens em vez de se deixarem levar, acreditando apenas que se ouvirem, se ficarem atentos ao som das águas, o que os espera é a bonança, a calma de uma foz que tem pela frente o horizonte de um mar imenso. Uma vez aí chegados muito ficou para trás, correntes, rápidos, lagos, cascatas, cada um com a sua dificuldade com os seus desafios, mas com isso aprenderam a fluir, a ser leves e a ficar à superfície.

O sofrimento é apenas uma consequência da não fluidez, de não aceitarem com responsabilidade e respeito, o rio que os leva, de quererem outros rios na ilusão de melhores mares.

Quem procura esse estado de simplicidade, tende aparentemente aos olhos dos outros, a afastar-se deles, o que eles não podem ainda entender é que quem atinge essa simplicidade, essa leveza de Ser, nunca esteve tão perto deles, nunca os entendeu tanto, nunca os amou tanto com um amor que eles ainda não sentem nem entendem. O amor que surge depois de retiradas as camadas de complexidade, uma amor que entende e aceita incondicionalmente, não só aquilo que eles são, mas também aquilo que eles julgam ser. O amor de alma para alma.

Não interessa como vais retirar essas camadas. Podes faze-lo de múltiplas formas, pela constatação cientifica, pela metafisica, pela espiritualidade, não interessa desde que o faças, desde que o procures todos os dias. De uma coisa podes ter a certeza, no fim o que todos vão encontrar será o mesmo, o que todos vão encontrar é uma foz imensa, onde as águas se fundem para dar lugar ao mar infinito do amor incondicional essa vibração, essa frequência que se funde e flui com o universo e que tudo pode.

Carlos Dionísio, à conversa com o Mestre da emoção

23/09/2021